Celebrating International Women’s Day
Celebrating International Women’s Day

Mulheres no setor da logística

Ganhandor confiança e credibilidade

 

Apesar do interesse crescente no setor da logística, as mulheres ainda encontram obstáculos no seu caminho, tais como desigualdade salarial, preconceitos de género ou falta de oportunidades de carreira e progressão. No entanto, os investigadores asseguram que, se as empresas quiserem aliviar as pressões da cadeia de abastecimento, conseguem melhorar a eficiência se colocarem mais mulheres no planeamento logístico (1).

Nesta entrevista, Alexandra Olvera, Líder Comercial Global na CEVA Logistics, e Maria Villablanca, cofundadora e CEO da Future Insights Network, partilham a sua opinião profissional sobre como as mulheres de hoje podem mergulhar no mundo da logística, que desafios enfrentam e o que as pode ajudar a ganhar confiança e credibilidade num setor tradicionalmente masculino.

 

Globalmente, a Covid-19 foi um golpe duro para as conquistas recentes das mulheres no mundo profissional. Segundo a Oxfam International, uma organização internacional contra a pobreza, a crise da Covid-19 custou às mulheres de todo o mundo, pelo menos, 800 000 milhões de dólares em rendimentos perdidos em 2020. E esta até é uma “estimativa conservadora”, pois não inclui os salários perdidos pelos milhões de mulheres que trabalham na economia informal e que foram mandadas para casa ou cujas horas e salários foram drasticamente reduzidos (2).

Em todo o mundo, as mulheres têm mais probabilidades de desistir, e “menos mulheres do que homens recuperarão o emprego durante a recuperação da Covid-19”, declara a Organização Internacional do Trabalho no seu relatório publicado em julho de 2021 (3). Globalmente, haverá “menos 13 milhões de mulheres empregadas em 2021 em comparação com 2019, enquanto que o emprego masculino terá recuperado para os níveis de 2019”.

Por conseguinte, a diversidade de género na população ativa será fundamental para a recuperação das empresas pós-Covid. Os diretores executivos das cadeias de abastecimento continuam empenhados na diversidade de género, mas novos dados sugerem que terão de duplicar os esforços para definir objetivos, incluir mulheres na liderança e criar percursos profissionais para as mulheres, especialmente nos cargos superiores da organização.

 

Maria Villablanca: Alexandra, quais são os desafios e as principais ideias erradas sobre as mulheres no mundo da logística?

Alexandra Olvera: Ainda existe uma grande desigualdade salarial. O setor da logística é dominado por homens há bastante tempo, e continua a sê-lo na cabeça de muitas pessoas. Na logística e no transporte, por exemplo, as mulheres representam apenas 23% dos funcionários na Europa e na Ásia Central (4).

Além disso, o papel da mulher na família e em algumas culturas (ser uma mãe que fica em casa, o que é “natural”) é um preconceito persistente a nível cultural e setorial.

No entanto, estando neste setor há 20 anos, tenho visto as coisas mudarem. Os cargos operacionais, por exemplo, têm estado mais acessíveis para as mulheres ao longo dos anos. E, em geral, o aumento do horário de trabalho flexível tem ajudado a atrair mais mulheres.

 

 

Maria Villablanca: As empresas precisam de adotar algo mais sustentável em relação às iniciativas de diversidade, em vez de apenas contratar mais mulheres?

Alexandra Olvera: Sou contra as quotas e sinto-me mais inclinada para iniciativas de diversidade sustentável como certificar-me, por exemplo, de que existe um grupo diversificado disponível quando quero contratar. Este é mais um tema de diversidade e inclusão e não só de mulheres. Estes tipos de iniciativas ajudariam não só as mulheres, mas todos os grupos diversos a progredir.

As pessoas de uma equipa são como peças de um puzzle: todas têm tamanhos e formas diferentes, mas quando bem colocadas juntas e complementadas umas com as outras, constroem algo grande e incrível.

Quanto mais diversificada for a equipa, melhores e mais entusiasmantes serão as ideias e mais notáveis serão os resultados (5). É importante lembrar que todos temos algo a aprender.

 

Alexandra Olvera

 

Maria Villablanca: Hoje em dia, o que acha que o setor da logística tem de valor e o que tem para oferecer às mulheres? 

Alexandra Olvera: A logística tem um número muito diversificado de cargos: trabalhar num armazém, operações, gestão... São vários os trabalhos disponíveis. O setor tem muito mais visibilidade do que antes, e a qualidade que os clientes e o cliente final esperam da logística requer muita perícia.

Depois, também surgiu a flexibilidade para diferentes tipos de cargos que foram descobertos devido à crise da Covid-19: depois da Covid-19, todos perceberam que, na logística, é possível fazer um trabalho excelente mesmo se estivermos em casa.

A globalização também desempenhou um papel na transformação da perceção sobre a logística.

Se antes o setor era visto como muito operacional, exigindo muito trabalho físico, agora descobriu-se que há muito planeamento, análise... Também abriu os olhos de muitas pessoas e inspirou-as: “Como é que as coisas chegam a minha casa todos os dias, e de onde vêm?”. Todas essas perguntas foram respondidas, abrindo todo um mundo de novas possibilidades tanto para homens como para mulheres.

 

Maria Villablanca: Quais são algumas das questões fundamentais que as mulheres do setor da logística irão enfrentar nos próximos cinco anos? E que conselhos daria às mulheres neste setor? 

Alexandra Olvera: De acordo com um inquérito da Gartner, a percentagem de mulheres na gestão intermédia tem vindo a aumentar no último ano (gestoras e supervisoras de primeira linha, gestoras sénior e diretoras) (6). Sinceramente, é uma notícia positiva porque iremos ver estas mulheres a ocupar papéis mais significativos no futuro.

No entanto, as mulheres ocupam apenas 21% dos cargos da vice-presidência e da direção executiva da cadeia de abastecimento (uma descida em relação a 2021). Não é suficiente, mas vai mudar. 

As empresas estão à procura de mulheres, pois têm de mostrar que estão a aumentar o número de mulheres nos diferentes cargos. Temos de tirar partido disso. Se continuarem a trabalhar bem, oportunidades não irão faltar.

Muitas vezes, as mulheres duvidam de si próprias, o que impede muitas delas de avançar. Se quiserem dizer alguma coisa, digam-no, porque muitas outras pessoas o farão enquanto ficarem em silêncio. Se não se fizerem notar, é difícil avançar. Rodeiem-se de pessoas que vos possam dar conselhos e vos pressionem a serem um pouco mais agressivas e a exprimirem as vossas ideias.

 

 

 

Fontes:
1. “To Improve the Supply Chain, Put Women in Charge of Logistics, a Study Says”, The Wall Street Journal, July 2022 https://www.wsj.com/articles/women-supply-chain-logistics-efficency-11658172737 
2. COVID-19 cost women globally over $800 billion in lost income in one year, Oxfam, 2021https://www.oxfam.org/en/press-releases/covid-19-cost-women-globally-over-800-billion-lost-income-one-year#:~:text=The%20COVID%2D19%20crisis%20cost,3.9%20percent%20loss%20for%20men
3. Building Forward Fairer: Women’s rights to work and at work at the core of the COVID-19 recovery, International Labour Organization, July 2021 https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---gender/documents/publication/wcms_814499.pdf
4. World Economic Forum, “Here's why we need to get more women in transport and logistics”, February 2023 https://www.weforum.org/agenda/2023/02/women-transport-logistics-jobs/
5. McKinsey, “Diversity wins: How inclusion matters”, May 2020 https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/diversity-wins-how-inclusion-matters  
The report found that companies with greater gender diversity were 25% more likely to experience above-average profitability compared to their counterparts. Similarly, companies with greater ethnic and cultural diversity were 36% more likely to experience above-average profitability compared to their counterparts.
6. 2022 Women in supply chain research, AWESOME & Gartner, 2022 https://www.awesomeleaders.org/wp-content/uploads/2022/05/2022-AWESOME-Gartner-Report.pdf